
Depressão sob o olhar da Psicologia e da Psicanálise
A depressão é uma das condições psicológicas mais faladas atualmente — e não à toa. É uma experiência que afeta profundamente a forma como a pessoa sente, pensa e se relaciona com o mundo. Mas o que a Psicologia e, especialmente, a Psicanálise têm a dizer sobre isso?
Muito além da tristeza
É comum ouvir que depressão é "tristeza profunda", mas essa comparação pode ser injusta. A tristeza, apesar de desconfortável, faz parte do repertório emocional humano e geralmente tem uma causa clara, além de passar com o tempo. A depressão, por outro lado, costuma ser mais persistente, difusa e paralisante. Pode vir acompanhada de um sentimento de vazio, desinteresse por atividades antes prazerosas, alterações no sono, no apetite, dificuldade de concentração e, em casos mais graves, pensamentos de morte (American Psychiatric Association, 2014).
Um olhar psicanalítico: o que está por trás do sintoma?
Na visão psicanalítica, os sintomas não são meros “erros” do funcionamento mental, mas expressões de conflitos internos inconscientes. A depressão, portanto, pode ser compreendida como uma tentativa psíquica de lidar com perdas (reais ou simbólicas), frustrações e demandas internas que não encontraram caminhos saudáveis para se expressar (Greenberg & Mitchell, 1983).
Freud, por exemplo, em seu texto Luto e Melancolia (1917), diferencia o luto — um processo esperado diante de perdas — da melancolia, que se aproxima do que hoje chamamos de depressão. Na melancolia, a perda é incorporada de forma inconsciente, muitas vezes sem que a pessoa saiba exatamente o que foi perdido. Essa perda se volta contra o próprio “eu”, gerando sentimentos de culpa, desvalorização e autodepreciação.
Autores contemporâneos, como André Green, também apontam para a presença do vazio psíquico e da dificuldade de simbolização como aspectos centrais na depressão, especialmente nos casos chamados de depressão branca, onde não há grande expressão emocional aparente, mas um apagamento do desejo e da vitalidade (Green, 1983).
O papel do vínculo terapêutico
A psicoterapia é um espaço onde esses conteúdos inconscientes podem ser escutados, elaborados e simbolizados. O vínculo entre terapeuta e paciente é fundamental nesse processo. Em um ambiente acolhedor e livre de julgamentos, o paciente pode gradualmente compreender a origem de seus sofrimentos, reorganizar suas emoções e encontrar novos sentidos para sua experiência (Winnicott, 1965).
É importante destacar que, em alguns casos, a psicoterapia pode ser associada ao acompanhamento psiquiátrico e ao uso de medicação, especialmente quando os sintomas depressivos são intensos (Kapczinski et al., 2010). A abordagem integrada entre psicologia e medicina é cada vez mais reconhecida como eficaz.
Depressão tem saída
Falar de depressão não é incentivar o sofrimento, mas permitir que ele seja reconhecido, compreendido e cuidado. A dor psíquica, embora invisível aos olhos, é real e merece atenção. Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem.
Na escuta clínica, cada pessoa é vista em sua singularidade — com sua história, suas dores e seus recursos. A Psicanálise, assim como outras abordagens da Psicologia, não oferece respostas prontas, mas convida o sujeito a fazer um caminho de encontro consigo mesmo.
Referências Bibliográficas
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American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Artmed.
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Freud, S. (1917). Luto e Melancolia. In: Obras Completas, Vol. XIV. Imago.
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Green, A. (1983). O discurso vivo: clínica psicanalítica do afeto. Martins Fontes.
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Greenberg, J., & Mitchell, S. (1983). Object Relations in Psychoanalytic Theory. Harvard University Press.
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Kapczinski, F., Quevedo, J., & Parlatore, A. (2010). Transtornos de Humor: Teoria e Clínica. Artmed.
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Winnicott, D. W. (1965). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Artes Médicas.
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